17 de janeiro de 2018

EUA + Coreia do Norte = Guerra ?



Estamos vendo dois líderes novos que pensam que o mundo é um jogo de tabuleiro, com escalação verbal, militar e de poder. Estamos diante de um velho jeito de negociar, de “ganha ou perde”, sem buscar o “ganha, ganha”.


Apesar de o clima ter esquentado no último ano, desde a posse de Donald Trump, a tensão entre EUA e Coreia do Norte é de longa data, precisamente, após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939 - 45). Em 1948, a Coreia se divide em duas: a do Norte, socialista, com apoio da União Soviética, e a do Sul, capitalista, que ganhou proteção dos estadunidenses.
Em junho de 1950, a Coreia do Norte invade a do Sul, com apoio da União Soviética e da China, em um episódio que ficou conhecido como a “Guerra da Coreia”. Com reforço militar dos EUA, Seul (capital da Coreia do Sul) é retomada e a guerra chega ao fim três anos depois, com um cessar-fogo que nunca foi oficializado como tratado de paz. A guerra deixou quatro milhões de mortos, e as tensões continuaram entre os países.
"A Coreia do Norte praticamente nasce com os Estados Unidos sendo seus principais inimigos", resume ao HuffPost Brasil o professor de Relações Internacionais da PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Carlos Gustavo Poggio.
Nas décadas seguintes, mais atritos abalam tal relação. A Coreia do Norte capturou um navio de espionagem americano em 1968, e no ano seguinte, derrubou um avião de reconhecimento americano. No final dos anos 90, Kim Jong-il, que sucedeu o pai, se compromete a desmantelar seu programa nuclear, mas a promessa não dura muito tempo e um míssil balístico de longo alcance é testado.
A rixa se intensifica depois do atentado de 11 de setembro de 2001 quando aviões controlados por terroristas atingiram as torres gêmeas do World Trade Center e partes do prédio do Pentágono, sede do departamento de defesa dos EUA. Em 2002, o então presidente dos EUA, George W. Bush incluiu a Coreia do Norte no que classificou de "Eixo do Mal", junto ao Iraque e Irã. "A partir deste momento, a Coreia começa a investir de forma mais agressiva para obter seu poderio nuclear", explica Carlos Poggio. 

"Kim Jong-il (falecido e pai do atual ditador Kim Jong-un) percebe que se o Iraque tivesse armas nucleares, provavelmente não teria sido invadido pelos EUA. Esse foi o pensamento estratégico que a Coreia tem feito desde então."
Desde 2006, quando o regime norte-coreano executou seu primeiro teste nuclear, as Nações Unidas adotaram sanções, progressivamente severas, como embargo (proibição, impedimento) de armas, bloqueio de exportações e proibição de importar carvão. O resultado foi devastador para a economia da Coreia do Norte, que até hoje precisa de ajuda de vizinhos para lutar contra a miséria da população. Essa desigualdade econômica também é um problema para Kim Jong-un, e legitimar o regime se torna cada vez mais difícil, vendo o sucesso da Coreia do Sul, China e do Japão. O país está isolado, atrasado e sua única parceira comercial, a China, não está disposta em ser sua aliada incondicional.
Em 2008 Washington tira a Coreia do Norte da lista negra de países que apoiam o terrorismo. Em troca, os Estados Unidos exigem – sem êxito – controlar as instalações nucleares norte coreanas. Nos últimos anos, vários americanos foram detidos no país totalitário e soltos anos depois. Alguns continuam presos até hoje.

Tensão Nuclear

Os sucessivos conflitos entre os EUA e a Coreia do Norte não são apenas históricos, mas também ideológicos. O ditador norte coreano Kim Jong-un precisa dos EUA para justificar seu regime. "O ditador precisa mostrar que existe um país inimigo externo para valorizar o patriotismo e a política totalitária (governo autoritário). É uma maneira de guardar o poder e fazer que o líder tenha adesão do povo contra o inimigo comum", disse Duzert, que tem pós-doutorado na Universidade de Harvard.

Kim Jong-un utiliza a velha manipulação de povo: caracterizar um inimigo, no caso os EUA, para justificar a carestia (dificuldades econômicas) que a Coreia do Norte passa hoje, por conta das sanções das Nações Unidas, e também para fundamentar a necessidade de armas nucleares.

Por que a Coreia do Norte é tão temida pelo mundo?
Conforme o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), os países que têm armas nucleares são os Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França. Mas é a Coreia do Norte que causa mais temores em todo o mundo, mesmo que seu programa nuclear não seja tão avançado como o dos demais países. Então, o que a Coreia do Norte tem de tão assustador? Segundo o professor de Relações Internacionais da PUC, Carlos Poggio, a resposta está no seu isolamento. Explica o professor: "Mesmo sobre China e Rússia temos algum nível de informação, que compreende as ações de seus governos. No caso da Coreia do Norte, sabemos muito pouco sobre o país e sobre o líder Kim Jong-un. Os países tentam interpretar as ações dele a partir do que ele divulga". Então temos um país que depende da vontade de um único indivíduo e sabemos muito pouco sobre ele. Essa é uma questão que torna uma arma nuclear da Coreia do Norte mais perigosa.
A inexperiência do jovem líder norte-coreano e a postura nada diplomática de Trump podem causar "ações abruptas e excessivas", e tornar uma faísca de fósforo em um "grande incêndio". Mas, caso chegasse às últimas consequências, a guerra entre estes países não se enquadraria a uma Terceira Guerra Mundial. Nas guerras mundiais aconteceu uma série de alianças. Você não vê países se aliando à Coreia do Norte para atacar os EUA. Se acontecesse guerra, seria uma guerra regional, concentrada na Ásia, mas ainda assim teria proporções trágicas, considerando que a Coreia do Norte possua em seu arsenal a bomba de Hidrogênio.





Esperança Olímpica.
Da capital da Coreia do Norte, Pyongyang, veio a proposta de enviar uma delegação aos Jogos Olímpicos de Inverno, que vão decorrer em fevereiro na Coreia do Sul. “A parte norte-coreana propôs enviar uma delegação de alto nível”, declarou o ministro-adjunto da Unificação da Coreia do Sul, Chun Hae-Sung. O anúncio de Pyongyang foi feito durante a reunião entre as duas Coreias, a primeira desde dezembro de 2015, que decorre em Panmunjom, aldeia fronteiriça onde foi assinado o armistício da Guerra da Coreia (1950-53). 
O encontro histórico aconteceu depois de vários gestos de aproximação entre os dois países, desencadeados por uma surpreendente mudança no tom do líder norte-coreano, Kim Jong-un, que defendeu melhorar as relações com o Sul. "Venho com a esperança de que as duas Coreias mantenham as conversas com uma atitude sincera e fiel", disse o representante norte-coreano em seu discurso de abertura. O enviado de Pyongyang enfatizou que o povo coreano "possui grandes expectativas" em relação ao encontro. O ministro da Unificação sul-coreano pediu que as conversas sejam conduzidas "com determinação e persistência" e lembrou que a reunião ocorre em um contexto em que as relações bilaterais estão muito desgastadas. “As pessoas têm um forte desejo de ver o Norte e o Sul trabalhando para a paz e a reconciliação", acrescentou o ministro. Ainda segundo o ministro sul-coreano, além de representantes do governo, a Coreia do Norte vai também enviar atletas aos Jogos Olímpicos de Inverno, bem como apoiantes, jornalistas e uma equipa de taekwondo para realizar exibições durante o evento. A participação da Coreia do Norte nos Jogos Olímpicos de Inverno que começam em 09 de fevereiro poderia aliviar a tensão na península. Em 2017 assistimos três testes nucleares e lançamento de múltiplos mísseis balísticos por parte da Coreia do Norte, além da retórica (oratória) bélica do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem trocado insultos pessoais e ameaças de guerra com Kim Jong-un.
Considerando que milhões de pessoas foram separadas durante a Guerra da Coreia, sem ter oportunidade de voltar a ver familiares próximos, uma vez que foram interditadas as comunicações terrestres, aéreas e marítimas, troca de cartas ou chamadas telefônicas. A Coreia do Sul propôs a realização, em meados de fevereiro, coincidindo com as festividades do Ano Novo Lunar, uma reunião das famílias coreanas separadas, mas a Coreia do Norte ainda não se pronunciou relativamente a esse assunto.

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