Apesar de
o clima ter esquentado no último ano, desde a posse de Donald Trump, a tensão
entre EUA e Coreia do Norte é de longa data, precisamente, após o fim da
Segunda Guerra Mundial (1939 - 45). Em 1948, a Coreia se divide em duas: a do
Norte, socialista, com apoio da União Soviética, e a do Sul, capitalista, que
ganhou proteção dos estadunidenses.
Em junho
de 1950, a Coreia do Norte invade a do Sul, com apoio da União Soviética e da
China, em um episódio que ficou conhecido como a “Guerra da Coreia”. Com
reforço militar dos EUA, Seul (capital da Coreia do Sul) é retomada e a guerra
chega ao fim três anos depois, com um cessar-fogo que nunca foi oficializado
como tratado de paz. A guerra deixou quatro milhões de mortos, e as tensões
continuaram entre os países.
"A
Coreia do Norte praticamente nasce com os Estados Unidos sendo seus principais
inimigos", resume ao HuffPost
Brasil o professor de Relações Internacionais da PUC (Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo) Carlos Gustavo Poggio.
Nas décadas seguintes, mais atritos abalam tal relação. A Coreia do Norte capturou um navio de espionagem americano em 1968, e no ano seguinte, derrubou um avião de reconhecimento americano. No final dos anos 90, Kim Jong-il, que sucedeu o pai, se compromete a desmantelar seu programa nuclear, mas a promessa não dura muito tempo e um míssil balístico de longo alcance é testado.
Nas décadas seguintes, mais atritos abalam tal relação. A Coreia do Norte capturou um navio de espionagem americano em 1968, e no ano seguinte, derrubou um avião de reconhecimento americano. No final dos anos 90, Kim Jong-il, que sucedeu o pai, se compromete a desmantelar seu programa nuclear, mas a promessa não dura muito tempo e um míssil balístico de longo alcance é testado.
A rixa se
intensifica depois do atentado de 11 de setembro de 2001 quando aviões
controlados por terroristas atingiram as torres gêmeas do World
Trade Center e partes do prédio do Pentágono, sede do departamento de defesa dos EUA. Em 2002, o
então presidente dos EUA, George W. Bush incluiu a Coreia do Norte no que
classificou de "Eixo
do Mal", junto
ao Iraque e Irã. "A partir deste momento, a Coreia começa a investir de
forma mais agressiva para obter seu poderio nuclear", explica Carlos
Poggio.
"Kim Jong-il (falecido e pai do atual ditador Kim Jong-un) percebe que se o Iraque tivesse armas nucleares, provavelmente não teria sido invadido pelos EUA. Esse foi o pensamento estratégico que a Coreia tem feito desde então."
"Kim Jong-il (falecido e pai do atual ditador Kim Jong-un) percebe que se o Iraque tivesse armas nucleares, provavelmente não teria sido invadido pelos EUA. Esse foi o pensamento estratégico que a Coreia tem feito desde então."
Desde
2006, quando o regime norte-coreano executou seu primeiro teste nuclear, as Nações
Unidas adotaram sanções, progressivamente severas, como embargo (proibição, impedimento) de
armas, bloqueio de exportações e proibição de importar carvão. O resultado foi
devastador para a economia da Coreia do Norte, que até hoje precisa de ajuda de
vizinhos para lutar contra a miséria da população. Essa desigualdade econômica
também é um problema para Kim Jong-un, e legitimar o regime se torna cada vez
mais difícil, vendo o sucesso da Coreia do Sul, China e do Japão. O país está
isolado, atrasado e sua única parceira comercial, a China, não está disposta em
ser sua aliada incondicional.
Em 2008
Washington tira a Coreia do Norte da lista negra de países que apoiam o
terrorismo. Em troca, os Estados Unidos exigem – sem êxito – controlar as instalações
nucleares norte coreanas. Nos últimos anos, vários americanos foram detidos no
país totalitário e soltos anos depois. Alguns continuam presos até hoje.
Tensão Nuclear
Os
sucessivos conflitos entre os EUA e a Coreia do Norte não são apenas
históricos, mas também ideológicos. O ditador norte coreano Kim Jong-un precisa
dos EUA para justificar seu regime. "O ditador precisa mostrar que existe
um país inimigo externo para valorizar o patriotismo e a política totalitária
(governo autoritário). É uma maneira de guardar o poder e fazer que o líder
tenha adesão do povo contra o inimigo comum", disse Duzert, que tem
pós-doutorado na Universidade de Harvard.
Kim Jong-un utiliza a velha manipulação de povo:
caracterizar um inimigo, no caso os EUA, para justificar a carestia
(dificuldades econômicas) que a Coreia do Norte passa hoje, por conta das
sanções das Nações Unidas, e também para fundamentar a necessidade de armas
nucleares.
Por que a Coreia do Norte é tão temida pelo
mundo?
Conforme
o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), os países que têm armas nucleares
são os Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França. Mas é a Coreia do
Norte que causa mais temores em todo o mundo, mesmo que seu programa nuclear
não seja tão avançado como o dos demais países. Então, o que a Coreia do Norte
tem de tão assustador? Segundo o professor de Relações Internacionais da PUC, Carlos
Poggio, a resposta está no seu
isolamento. Explica o professor: "Mesmo sobre China e Rússia temos
algum nível de informação, que compreende as ações de seus governos. No caso da
Coreia do Norte, sabemos muito pouco sobre o país e sobre o líder Kim Jong-un.
Os países tentam interpretar as ações dele a partir do que ele divulga". Então temos um país que depende da vontade de
um único indivíduo e sabemos muito pouco sobre ele. Essa é uma questão que
torna uma arma nuclear da Coreia do Norte mais perigosa.
A inexperiência do jovem líder norte-coreano e a postura nada diplomática de Trump podem causar "ações abruptas e excessivas", e tornar uma faísca de fósforo em um "grande incêndio". Mas, caso chegasse às últimas consequências, a guerra entre estes países não se enquadraria a uma Terceira Guerra Mundial. Nas guerras mundiais aconteceu uma série de alianças. Você não vê países se aliando à Coreia do Norte para atacar os EUA. Se acontecesse guerra, seria uma guerra regional, concentrada na Ásia, mas ainda assim teria proporções trágicas, considerando que a Coreia do Norte possua em seu arsenal a bomba de Hidrogênio.
A inexperiência do jovem líder norte-coreano e a postura nada diplomática de Trump podem causar "ações abruptas e excessivas", e tornar uma faísca de fósforo em um "grande incêndio". Mas, caso chegasse às últimas consequências, a guerra entre estes países não se enquadraria a uma Terceira Guerra Mundial. Nas guerras mundiais aconteceu uma série de alianças. Você não vê países se aliando à Coreia do Norte para atacar os EUA. Se acontecesse guerra, seria uma guerra regional, concentrada na Ásia, mas ainda assim teria proporções trágicas, considerando que a Coreia do Norte possua em seu arsenal a bomba de Hidrogênio.
Esperança
Olímpica.
Da capital da Coreia do Norte, Pyongyang, veio a
proposta de enviar uma delegação aos Jogos Olímpicos de Inverno, que vão
decorrer em fevereiro na Coreia do Sul. “A parte norte-coreana propôs enviar
uma delegação de alto nível”, declarou o ministro-adjunto da Unificação da
Coreia do Sul, Chun Hae-Sung. O anúncio de Pyongyang foi feito durante a
reunião entre as duas Coreias, a primeira desde dezembro de 2015, que decorre
em Panmunjom, aldeia fronteiriça onde foi assinado o armistício da Guerra da
Coreia (1950-53).
O encontro histórico aconteceu depois de vários
gestos de aproximação entre os dois países, desencadeados por uma surpreendente
mudança no tom do líder norte-coreano, Kim Jong-un, que defendeu melhorar as
relações com o Sul. "Venho com a esperança de que as duas Coreias
mantenham as conversas com uma atitude sincera e fiel", disse o
representante norte-coreano em seu discurso de abertura. O enviado de Pyongyang
enfatizou que o povo coreano "possui grandes expectativas" em relação
ao encontro. O ministro da Unificação sul-coreano pediu que as conversas sejam
conduzidas "com determinação e persistência" e lembrou que a reunião
ocorre em um contexto em que as relações bilaterais estão muito desgastadas. “As
pessoas têm um forte desejo de ver o Norte e o Sul trabalhando para a paz e a
reconciliação", acrescentou o ministro. Ainda segundo o ministro
sul-coreano, além de representantes do governo, a Coreia do Norte vai também
enviar atletas aos Jogos Olímpicos de Inverno, bem como apoiantes, jornalistas
e uma equipa de taekwondo para realizar exibições durante o evento. A
participação da Coreia do Norte nos Jogos Olímpicos de Inverno que começam em
09 de fevereiro poderia aliviar a tensão na península. Em 2017 assistimos três testes
nucleares e lançamento de múltiplos mísseis balísticos por parte da Coreia do
Norte, além da retórica (oratória) bélica do Presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, que tem trocado insultos pessoais e ameaças de guerra com Kim
Jong-un.
Considerando que milhões
de pessoas foram separadas durante a Guerra da Coreia, sem ter oportunidade de
voltar a ver familiares próximos, uma vez que foram interditadas as comunicações
terrestres, aéreas e marítimas, troca de cartas ou chamadas telefônicas. A
Coreia do Sul propôs a realização, em meados de fevereiro, coincidindo com as
festividades do Ano Novo Lunar, uma reunião das famílias coreanas separadas,
mas a Coreia do Norte ainda não se pronunciou relativamente a esse assunto.
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