A retomada das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba
fora anunciada em dezembro de 2014. A iniciativa fora do governo de Barack
Obama, o qual afirmou, em discurso, que as duas nações não mantinham relações
desde janeiro de1961. A ação política estadunidense leva a crer que, em breve,
Cuba poderá se abrir mais economicamente e se livrar do embargo econômico,
imposto pelos EUA, que acomete o país desde 1962. Entretanto, como disse Obama,
tal embargo está “codificado na legislação” estadunidense – fato ocorrido ao
início dos anos 1990 –, o que faz com que a sua suspensão não seja assim tão
simples. Para que ocorra, é necessária a aprovação de uma maioria no Congresso
dos EUA. Contudo, esse Congresso é de maioria republicana, e os republicanos
tem maior propensão a serem, ainda, a favor do embargo sobre Cuba.
O governo dos irmãos Castro, mais especificamente na gestão de Raúl
Castro, implementou a chamada Lei de Investimentos Estrangeiros, em que se
buscou, junto ao Parlamento, atrair investimentos em até US$ 2 bilhões por ano,
elevando o crescimento econômico em 7%. Gerar empregos e ter acesso a novas
tecnologias e mercados externos seriam algumas das consequências para Cuba,
que, antes, se abria muito lentamente para esse tipo de investimento. Foi o que
chamou a atenção do governo de Obama recentemente.
Quando pensamos na política cubana, podemos
erroneamente pensar se tratar de um governo praticamente totalitário. Afinal,
os irmãos Castro vigoram no poder há mais de cinco décadas, e seu modelo de
governo não é em quase nada parecido com o que estamos acostumados: uma
república presidencialista, democrática, com eleições feitas regularmente,
pregando-se a alternância de poder, e que se pauta nos três poderes (executivo,
legislativo e judiciário). Acontece que Cuba se pauta em apenas um poder: o
chamado Sistema de Poder Popular Único. O povo elege uma Constituição e, com
ela, seus representantes. As Assembleias do Poder Popular são o instrumento por
meio do qual a população pode eleger, por exemplo, o Conselho de Estado. A sua
Constituição determina a existência de apenas um partido, o Partido Comunista.
Seu papel, no entanto, não é o mesmo dos partidos políticos que estamos
acostumados a ver. Trata-se de um partido dirigente da sociedade, em que ocorre
a consulta ampla das massas de trabalhadores, que propõem constantemente às
Assembleias. O PC funcionaria, então, como uma espécie de mediador entre o povo
e os órgãos de Poder Popular, como as Assembleias, juntamente ao governo
cubano.
Como descreve Anita Leocadia Prestes em seu artigo de
2013, intitulado “O Sistema Político em Cuba: Uma Democracia Autêntica”, o
Parlamento cubano também se pauta em cinco premissas consideradas democráticas.
São elas:
O povo propõe e nomeia livre e democraticamente os
seus candidatos; os candidatos são eleitos mediante voto direto, secreto e
majoritário dos eleitores; o mandato dos eleitos pode ser revogado pelo povo a
qualquer momento; o povo controla sistematicamente os eleitos; o povo participa
com eles da tomada das decisões mais importantes.
Todavia, o que se mostra o tempo inteiro é o lado da
mídia que distorce a realidade cubana, a qual está a serviço dos que detém
maior poder econômico e de capital internacionalizado.
O EMBARGO ECONÔMICO E A RETOMADA DAS RELAÇÕES ESTADOS UNIDOS-CUBA
O embargo econômico de Cuba fora imposto pelos Estados
Unidos num contexto de Guerra Fria, onde havia um enfrentamento ideológico
extremo entre as duas maiores potências do pós-Segunda Guerra, os Estados
Unidos e a União Soviética. Nesse sentido, Cuba, a pequena ilha da América
Central, ao se declarar socialista e se alinhar com a União Soviética,
contrariou grande parte dos interesses estadunidenses, gerando um dos embargos
econômicos de maior duração do mundo contemporâneo.
A história deixa claro que os EUA se engajaram
fortemente na luta contra qualquer tipo de disseminação ideológica que fosse de
caráter nacionalista, socialista ou comunista na América Latina após Cuba se tornar
socialista.
A reaproximação, após anos de tensões durante a Guerra
Fria, começou a se dar lentamente em 2013, à medida que o governo de Obama
pediu ao governo dos Castro que liberassem um americano preso em Cuba, o
prestador de serviços chamado Alan Gross, acusado de espionagem. O secretário
de estado dos EUA, John Kerry, acabou por convidar um outro ator a se
posicionar perante o caso, o Vaticano, no que seu representante, Papa
Francisco, declarou que as duas nações deveriam deixar de lado quaisquer
diferenças ainda existentes e se reaproximar. O que se leva a crer é que,
segundo os EUA, o Vaticano foi, definitivamente, uma influência na condução de
sua política externa em relação a Cuba.
Em resumo, Cuba, ao libertar Alan Gross, e os EUA, ao
libertarem espiões cubanos, junto com o novo diálogo que promete construir uma
maior abertura econômica em Cuba, levou a uma mudança histórica sem
precedentes, praticamente encerrando os acontecimentos da época da Guerra Fria.
SERÁ POSSÍVEL A DEMOCRATIZAÇÃO DE CUBA?
Será que já se pode pensar em democratização de Cuba? O governo dos
Estados Unidos já o está fazendo, o que fica evidente em alguns trechos do
discurso de Obama acerca do restabelecimento das relações diplomáticas entre os
dois países:
“Nos pontos em que [nós, EUA e Cuba] discordamos,
vamos levantar essas divergências diretamente, como vamos continuar a fazer em
questões ligadas à democracia e aos direitos humanos em Cuba. Acredito que
podemos fazer mais para apoiar o povo cubano e promover nossos valores através
do engajamento. […] Saudamos a decisão de Cuba a […] continuar a aumentar o
engajamento com instituições internacionais como as Nações Unidas e o Comitê
Internacional da Cruz Vermelha, que promovem valores universais. Mas não nutro
ilusão quanto às barreiras à liberdade que ainda permanecem para os cubanos
comuns. Os Estados Unidos creem que nenhum cubano deveria enfrentar assédio,
prisão ou espancamento simplesmente por estar exercendo o direito universal de
se fazer ouvir. E vamos continuar a apoiar a sociedade civil de Cuba.”
Ainda no mesmo discurso, Obama alega ser antiquado o
embargo e a exclusão de Cuba, já que os EUA se relacionam livremente com a
China, a qual possui uma política fechada, bem como seu próprio Partido
Comunista. Além disso, houve a retomada das relações com o Vietnã, antigo
inimigo de guerra também dos tempos da Guerra Fria. Houve, também, retomada de
relações com o Irã. Por que, então, Cuba permanecia isolada?
É perceptível no discurso de Obama a condenação do regime político
cubano, em que alega, firmemente, que ele está violando os Direitos Humanos e
Universais. Disso, surge o questionamento que dá título a este artigo: será
possível a democratização de Cuba? Ao exemplo supracitado da China, já se sabe
que abertura econômica não é sinônimo de abertura política, tampouco de
adequação ao capitalismo nos moldes europeus. A China, no entanto, não é Cuba,
e tem suas particularidades que a diferem das outras nações. Para ela, é
possível que se possa manter relações comerciais com todo o mundo sem misturar
sua política nisso.
Mas e para Cuba? O fato de os irmãos Castro terem
ocupado o poder político há mais de cinco décadas deixa dúvidas sobre a
legalidade das eleições cubanas, e, principalmente, sobre se há uma democracia
de fato existente. Mais importante que isto, para analisar o que será de Cuba
deve-se levar em consideração os efeitos do embargo econômico e do consequente
isolamento cubano, recebendo pouca ajuda externa, como por exemplo, alimentos e
algumas commodities estadunidenses, além da ajuda
humanitária de Organizações Não-Governamentais (ONGs).
Um país que
se encontra fraco economicamente, mesmo recebendo maiores investimentos
externos e obtendo lucros com turismo, pode estar suscetível a possíveis
intervenções políticas indiretas. Por exemplo: os Estados Unidos, juntamente
com organizações internacionais de peso como as Nações Unidas (ONU) e a
Organização dos Estados Americanos (OEA), podem opinar a favor de uma
democratização cubana. Afinal de contas, a cartilha dos Direitos Humanos contém
uma série de diretrizes que podem ser utilizadas para legitimar as opiniões
internacionais sobre o governo dos Castro, bem como para provar para a opinião pública
que Cuba necessita se democratizar porque não segue tais
diretrizes. É tudo uma questão de qual é o discurso hegemônico predominante no
sistema internacional.
ATIVIDADES:
01.- Crie um vocabulário
histórico com o significado das palavras contidas no texto que você não
conhece.
02.- Quais são as diferenças
básicas entre Capitalismo e Socialismo? (Lembre-se dos conceitos que estudamos
durante os estudos sobre a Revolução Industrial)
03.- Conforme o texto, Cuba se
pauta em apenas um poder: o Sistema de Poder Popular Único. Explique!
04.- Escreva o que “foi” o
embargo imposto pelos EUA sobe Cuba e como ele chega ao final. Cite a
participação do papa Francisco nesse processo histórico.
05.- Parte do texto indaga “será possível a democratização de Cuba?” Qual
sua opinião sobre essa democratização?
FONTES:
Boletim Mundorama. A abertura econômica de Cuba e sua possível democratização,
por Marina Mahfuz & Matheus Hoffmann Pfrimer. Disponível em: <http://mundorama.net/2015/05/19/a-abertura-economica-de-cuba-e-sua-possivel-democratizacao-por-marina-mahfuz-e-matheus-hoffmann-pfrimer/> acesso em 09/15.
Folha de S. Paulo: Leia a íntegra do discurso de Obama sobre acordo entre EUA e Cuba.
2014. Dispoível em:
acesso em 09/15.
Uol Notícias. OEA aprova resolução de apoio ao
restabelecimento de relações EUA-Cuba. 23/12/2014.
Disponível em:
acesso em 09/15.
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